sexta-feira, 22 de maio de 2015

Respeitar: Aprender e Ensinar



Respeitar é sempre algo que vale a pena
ensinar e aprender. Sempre, sempre.
E a história abaixo nos conta que sempre há
uma razão sob um comportamento, mesmo
que este, por vezes, pareça bizarro. Há algo
a ser compreendido; pois ali se faz uma marca
da história de alguém, que muitas vezes luta
por sua sobrevivência a duras penas. Portanto,
não zombe, não escarneça. Se não puder ajudar,
ajudará muito, se apenas respeitar.
A historinha abaixo, é muito mais eloquente
em ensinar a respeitar as diferenças, marcantes
ou sutis entre os seres humanos, mais do que
palavras que possam ser ditas; por isso me calo.


O Menino das Meias Vermelhas*

                       Carlos Heitor Coni





O nome dele era complicado, passou
a primeira semana sem que ninguém
o chamasse para brincar .
Até que repararam que sempre usava
meias vermelhas .
O menino das meias vermelhas vivia
pelos cantos, quase nao falava, quase
nao existia. Apesar disso, nao parecia
infeliz ; era apenas solitário.


Um dia lhe perguntaram: Menino das
Meias Vermelhas, por que você sempre
usa meias vermelhas? Ele respondeu,
como se não fosse com ele: No dia dos
meus anos, minha mãe me levou ao circo,
e colocou-me meias vermelhas. Eu reclamei;
como aquelas meias chamariam a atenção dos
outros e todo mundo zombaria de mim.

Ela explicou: Lá vai ter muita gente, se eu
me perder de você, será fácil te encontrar.

E todos os dias lá vinha o menino com suas
meias vermelhas, com seu silêncio, sua
solidão, como se esperasse alguma coisa...
Ninguém dava mais importância a ele e nem
às suas meias.
Sentava em cima de uma pedra, nos fundos
do campo onde os meninos jogavam bola ou
soltavam pipas. Até que veio uma tarde que a
chuva não deixou eles brincarem assim.
E pra passar o tempo resolveram provocar o
Menino das Meias Vermelhas:

Você não está no circo! Tire essas meias
vermelhas, elas são ridículas!



O Menino das Meias Vermelhas não ficou
aborrecido. Depois de algum tempo falou,
como se falasse consigo mesmo: Eu vou
continuar usando meias vermelhas. É que
minha mãe foi embora. Um dia, talvez, ela
passe por mim em algum lugar. Então, verá
minhas meias vermelhas e me reconhecerá.

O sol apareceu de repente e os outros meninos
foram jogar futebol e soltar pipas.


* Republicado em 10.12.95 em "Folha de São Paulo".

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