segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O QUE EU APRENDI

           

O QUE EU APRENDI...



Nas aulas de Aprendizagem Humana, eu sempre instigava meus alunos a lembrar de alguma aprendizagem que houvesse sido importante para eles. Nas respostas, muitos se reportavam às aprendizagens escolares, indicando: a leitura, a escrita, o cálculo, Piaget, a Psicanálise e por aí vai. Outros abriam um leque diverso das aprendizagens curriculares e, apontavam os fatos de terem aprendido a assobiar, a andar de bicicleta, ver as horas e praticar esportes, entre outras do gênero.

Eu, como psicóloga e professora, considerava ótimos ambos os tipos de respostas; pois mostravam o quão amplo era o universo das aprendizagens. Aprendemos tantas coisas; simples ou complexas, mais valorizadas socialmente ou menos e, nem nos damos conta destas, entretanto, elas se acumulam, se organizam e compõem nossa subjetividade.

Mas afinal, o que é aprendizagem? A Psicologia da Aprendizagem ajuda-nos a compreender este processo psicológico. Definido pela professora Witter, como “mudança relativamente estável num estado interno do organismo, resultante da prática ou experiência anterior, que constitui condição necessária, mas não suficiente para que o desempenho ocorra”.

Destacamos dois elementos importantes aí: um é o caráter de transformação da aprendizagem, quando esta acontece, algo muda, algo faz diferença no sujeito, mesmo que sutil ; ainda não completamente evidenciada. O segundo, se refere às experiências do sujeito que lhe proporcionaram mobilização e produziram uma perturbação ou desequilíbrio em seu estado inicial.

A aprendizagem é assim tecida de situações que põem à prova uma forma inicial de ser, transportando o sujeito para um estado outro de seu modo de ser. Entre as experiências necessárias para que haja a aprendizagem, são cruciais as de ordem sociais, que incluem as outras pessoas, desde as mais significativas; como entes queridos, até aquelas que nem sequer conhecemos a face. É nesta encruzilhada de nossas histórias com as histórias de outrem que vamos aprendendo, quer queiramos ou não.

Vale ressaltar que, de per si, as experiências não determinam a aprendizagem X ou Y. Paulo Freire explica que não se trata de determinação, mas sim de provocação. Isto quer dizer que o meio e as situações vividas desafiam as pessoas, estimulando-as; algo porém, fica “em aberto”, indicando possibilidades, muitas até inimagináveis, mas não se pode falar em determinações! Brechas vão se fazendo e permitindo a ação de nosso psiquismo criativo e engenhoso, de forma que a diversidade seja produzida e bem vinda ao universo.

Assim, é que uma mesma situação externa poderá promover diferentes aprendizagens em pessoas que por sua vez também têm caracteres diversos entre si. Logo, mesmo que, supostamente, aprenda-se uma mesma coisa, ou sobre o mesmo assunto, o aprender é sempre um ato pessoal; há responsabilidade e envolvimento de quem aprende. O processo de aprender é também intersubjetivo, exige trocas, câmbios com as demais subjetividades; as quais carregam em si um olhar todo próprio . Aprender é fácil, entretanto, não é pouca coisa! Por esta razão, de vez em quando, deveríamos nos deter um pouco para refletir sobre o que aprendemos no viver.

As aprendizagens criam marcas em nós e tal qual uma talha, nos esculpem, integrando o nosso ser. E é bom que as reconheçamos. E é bom que venham para nos tornar melhores; porque sabemos que podemos aprender para o bem e para o mal, para melhorar ou piorar a nós mesmos e ao mundo. É uma questão de escolher o que queremos ser, plantar e colher! Bom, e quando começamos a falar de escolhas, evocamos o discernimento e a sabedoria. Deixemos para outro momento abordar tão importantes atributos humanos.

                                                                          (EMRC)

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